Um amor em Paris

(Vou traduzir os diálogos que teoricamente seriam passados em inglês, os que estão em francês estão traduzidos á frente, para facilitar a leitura)

Um Amor em Paris

I.
Decorria o ano de 2010 em Paris, França.
Kevin estava naquela cidade apenas há 2 dias. Conseguira alugar um pequeno apartamento por intercâmbio, a um aluno francês que iria estudar para Portugal. Tinha tido sorte em encontrar aquele apartamento tão rapidamente. Ficava situado na Rue Le Tasse.
Depois de arrumar todas as suas coisas olhou para a rua e o ambiente parecia convidá-lo a passear. Caminhava calmamente pelas ruas francesas, eram 19h, o céu estava limpo e decidiu que o melhor era conhecer a cidade.
Tinha 20 anos, era filho de pais portugueses, mas tinha nascido na Suíça, tendo-se mudado para Portugal aos 4 anos, acabando por não aprender francês.
Estava no segundo ano de Direito, mas tinha tirado um ano de folga da faculdade, queria descansar, arranjar forças para a acabar, e acabou por escolher Paris para passar as desejadas férias.
Viajou sozinho, não tinha ninguém com quem ir, os amigos não o acompanharam, porém ele não se preocupou, assim poderia fazer planos e organizar os pensamentos.
Quem sabe se não encontraria a companhia perfeita?

II.
Caminhava há 30 minutos pelas redondezas do seu novo apartamento quando decidiu entrar num café com muito bom aspecto, um lugar fino, daqueles que ele nunca pensara visitar.
Depois de dar uma vista de olhos há decoração, tipicamente parisiense, sentou-se perto da janela, debaixo de um quadro pintado a óleo, onde estava retratado Paris, e a tão famosa Torre Eiffel.
As paredes tinham fotografias de gente famosa, actores de Hollywood, Presidentes (actuais e repostos), gente que tinha visitado aquele local, pensava ele.
O empregado que se tinha acercado dele entretanto perguntou-lhe o que ele queria comer. Como Kevin ainda não falava fluentemente francês, fez o pedido em inglês, porém o empregado percebeu. Kevin pedira croissants com doce de ovo e um sumo de laranja natural, um pequeno lanche tardio.
Quando acabou de comer aquele lanche fabuloso, saiu do café, deu mais uma volta ao quarteirão e decidiu voltar para o apartamento.
Tirara algumas fotos durante o caminho, um hobbie que tinha desde jovem, passou-as para o computador e partilhou-as online, num blog que criara para o efeito.
Jantou apenas uma sopa, pois a fome era pouca devido ao lanche que havia tomado há poucas horas. Depois de jantar foi para o telhado do prédio onde morava, tinha uma vista magnífica sobre o verdejante parque Palais de Chaillot. A vista daquele local era arrebatadora, até para ele, que não ligava muito às paisagens citadinas, pois gostava mais do campo, da natureza. Tinha que admitir porém que aquele local era mágico, pairava uma aura positiva no ar, a cidade não era tão movimentada e poluída como se esperava, havia trânsito, havia muitas pessoas, mas não era o que ele estava à espera, estava até então a exceder as suas expectativas.
O telhado era sem dúvida a melhor divisão da casa. Nesse dia de manhã tinha ido comprar algumas coisas para o tornar mais agradável, tinha agora uma cama de rede, estratégicamente posicionada para que quem lá estivesse se deslumbrasse com a vista, alguns vasos com flores, uma mesa e duas cadeiras de madeira, para os jantares e pequenos-almoços ao ar livre.
Kevin planeava tornar aquele local uma espécie de jardim, um local agradável onde pudesse descontrair, onde não se ouvia o movimento na rua, apenas o vento e os pássaros, nada mais. Era o local ideal para passar as noites mais quentes, e se estivesse acompanhado nessa altura melhor ainda.
Ao pensar nisso, Kevin relembrou que sofrera bastante no que toca em relações com o sexo feminino. Tinha bastantes amigas, alguns amigos dele queixavam-se disso mesmo, mas o facto é que não passavam disso, amigas, não queriam envolver-se mais, queriam apenas amizade, e ele não conseguia percebia o porquê.
Era bem-educado e muito mais com as senhoras, dava-lhes boleia, abria-lhes as portas, levava flores se fossem sair, era um cavalheiro como há poucos. Por tudo isso ele não percebia tal afastamento no que tocava a relações amorosas.
Quando se sentia mais só, normalmente depois de um encontro fracassado pensava para ele mesmo que nunca tinha conhecido a mulher da sua vida, e essa era a razão para ainda estar sozinho.
Noites como aquelas faziam-no pensar mais do que o normal nesses assuntos, sentia-se só, queria alguém com quem partilhar aquele local, aquele clima, aquela vista magnífica, aquela confortável cama de rede, mas ainda não a tinha.


III.
Acabou por adormecer na cama de rede, mas acordou cedo, assim que o sol lhe atingiu a cara. Espreguiçou-se, tinha dormido realmente bem, olhou para o relógio, passava 5 minutos das 7h da manhã. Como ainda era cedo deixou-se ficar por ali, a absorver os primeiros raios de sol.
Levantou-se passado uma hora para ir petiscar alguma coisa, mas quando chegou ao interior do seu apartamento apercebeu-se que não tinha trocado de roupa. Foi então tomar um duche primeiro.
Vestiu uns calções e deixou-se ficar sem camisola, tinha um corpo cuidado, fazia exercício regular, e se não fosse a preguiça que sentia era isso que iria fazer de seguida, mas preferiu ir buscar uma maçã e voltar para a cama de rede de onde saíra minutos antes.
Ficou ali a apanhar sol, parecia um lagarto, mas sabia bem, o sol ainda não estava muito quente, e corria uma brisa matinal fresquinha
Estava a preparar-se para ir comer alguma coisa quando foi abordado por uma mulher.
Estava bem vestida, trazia um fato, devia ser secretária de alguma firma importante ou algo do género, pensou ele.
Ela apresentou-se, chamava-se Dominique e era directora de uma revista. Tinha reparado que ele estava a fotografar, e ao observá-lo de longe gostou dos seus métodos.
 
-Estava ali a observá-lo, espero que não se importe, e deixe-me que lhe diga que gostei bastante dos seus métodos fotográficos.
-Não importo, bem, obrigado, não sou nenhum profissional, é mais um hobbie, algo que gosto de fazer sempre que posso.
-Sim, já vi que gosta bastante, gostaria de ver algumas das fotografias que tirou, pode ser?
-Tudo bem, não me parece que vá gostar de alguma mas por mim tudo bem.
-Veremos. Acompanhe-me, vamos para a revista, lá poderemos descarregá-las no computador e avaliá-las.
-Tudo bem.

Kevin acompanhou-a, estavam a 15 minutos a pé do seu local de trabalho e Kevin achou o passo demasiado apressado. Dominique parecia um robot, entrara em modo trabalho e desatou a andar, dando a Kevin algumas dificuldades em acompanhá-la porém ela não pareceu dar conta.
Descarregaram as fotos que Kevin tinha tirado naquela manhã, as fotos do dia anterior estavam já guardadas no seu portátil, para não ocupar a memória da máquina.
Dominique achou que, no geral, ele tinha bastante jeito como fotógrafo, e ainda por cima se ele dizia que não ser profissional, que fazia aquilo por gosto, isso significava que era um talento natural, e ela gostava disso nos seus fotógrafos, naturalidade no que faziam.
-Kevin, você trabalha aqui em Paris?- Falavam em inglês. Kevin tinha-lhe pedido esse favor, daí ela perceber que ele não era local.
-Não, vim de férias, estou a fazer uma pausa da faculdade.
-Muito bem, já agora o que estuda? Só por curiosidade!
-Estou a tirar direito.
-Muito bem, queria fazer-lhe uma proposta, em relação às fotografias, gostaria de as vender para serem publicadas na revista.
-Bem, sim, se achar que lhe fazem falta sim, vendo sem problema.
-Claro que sim, tem aqui umas belas fotografias, acho que vão ficar bem na revista.
-Tudo bem, se assim é.

Kevin vendeu um total de 20 fotografias a 25€ cada uma. Em poucos minutos ganhou 500€, mais que o ordenado mínimo em Portugal, o que o deixou animado, já dava para umas férias mais folgadas, e arriscava-se até a voltar a Portugal com algum lucro.
Fez um acordo com Dominique, iria tirar mais fotografias nos dias seguintes e iria ter com ela para que esta as visse, e caso interessa-se vendia-lhas.
Tornara-se então fotógrafo independente, não tinha nenhuma obrigação com a revista mas tinha um acordo com Dominique.
O que outrora era um hobbie tornou-se agora uma missão, queria tirar fotos suficientemente boas para a revista, assim que saiu dos escritórios foi ao quiosque comprar a edição anterior da revista, para ter uma ideia do tipo de fotos que lá figuravam.
Comprou-a e sentou-se numa esplanada para dar uma vista de olhos. Ficou um pouco admirado por esta não trazer qualquer fotografia do género da que ele tirara, talvez Dominique tencionasse criar um artigo só com fotos, agora ficara ansioso, mas tinha de continuar a tirar fotografias e esperar para ver o que Dominique faria com as fotos que lhe comprara. 

 IV.
Só teve que esperar 2 dias pela edição que traria as suas fotografias. Durante esses 2 dias de espera passou a maior parte do tempo à procura da fotografia perfeita, mas estava demasiado ansioso com a revista para se puder concentrar como deve ser.
Foi de novo ao quiosque e comprou a edição que tanto queria ver, deu uma vista de olhos mesmo ali, mesmo antes de a abrir já estava a ver uma fotografia sua, estava na capa, uma foto que ele tirara de um casal sentado no jardim na Place do Trocadéro.
No interior tinha direito a 4 páginas dedicadas às suas fotografias, tinha 10 fotografias suas, e um texto que dava as coordenadas exactas daqueles locais. Falava pouco dele, mas também Dominique não lhe fizera muitas perguntas, tinha o essencial para que soubessem quem tinha sido o fotógrafo.
Agora sim, Kevin estava motivado para tirar a fotografia perfeita, e ela surgiu quando menos ele esperava.
Decidira-se a visitar a Torre Eiffel, algo que jurara fazer numa ocasião especial, sentia que era dali que poderia tirar a fotografia que iria possibilitar a sua aparição surpresa no mundo dos fotógrafos, elevar o respeito num meio difícil e bastante competitivo.
Passara o dia aos pés da torre a observar tudo ao seu redor, e ao anoitecer decidiu subir, a torre tinha as luzes acesas, fazendo um belo contraste com o pôr-do-sol. Lá em cima encontravam-se algumas pessoas a aproveitar a vista.
A maior parte eram casais que achavam aquele local um dos mais românticos da cidade, e tinham razão, até para quem estava solteiro aquele local fazia pensar em quem gostava.
Kevin tirou algumas fotos aos casais apaixonados, mas quem lhe chamou mais á atenção foi uma jovem solitária, estava ali, encostada ao gradeamento, também ela parecia estar a apreciar a vista, mas na sua expressão havia algo, parecia triste, talvez sentisse demasiada solidão num sítio daqueles. Demorou-se a observá-la: o cabelo dela, de um tom castanho claro caía levemente sobre a pele clara e suave.
Tirou algumas fotografias aquela desconhecida que tanto o atraíra, havia algo especial nela, Kevin não sabia o que era mas tinha de haver algo, ela sobressaía no meio da multidão mesmo estando sozinha.
Kevin sentiu-se tentado a ir falar-lhe mas não teve coragem, o que lhe diria, que lhe tinha tirado algumas fotos e que esperava que ela não se importasse, não era a abordagem apropriada, e para além disso, de certeza que ela falava francês, e ele ainda não aprendera o suficiente para manter uma conversa.
Ficou ali a admirá-la, a sua figura fazia um estranho mas tentador contraste com a linha da cidade, só se viam as luzes da cidade. Já estava bastante escuro e as luzes da Torre viam-se agora a quilómetros de distância. Aquela rapariga desconhecida estava no escuro, o que a tornava ainda mais misteriosa.
Num golpe de coragem Kevin decidiu aproximar-se, chegou ao pé dela e fitou-a, não lhe disse nada, ela sorriu ao vê-lo, mas também nada disse. Ficou encantado com os olhos dela, de um azul tão claro quanto o céu de Paris.
Ficaram ali, tão perto mas tão longe um do outro, a barreira da língua era um entrave que podia ser combatido mas demoraria tempo, iria ela esperar?
Eram muitas as perguntas que passavam na mente dele, mas decidiu arriscar, afinal não tinha nada a perder.

-Il est magnifique, n’est pa? (é magnifico, não é?)
-Oui, il est magnifique! (Sim, é magnifico)
-Désolé, je ne parles pas très bien français, vous le savez une autre langue? (desculpa, não falo muito bem francês, sabes alguma outra língua?)
-Sim, inglês, serve?
-Sim, serve perfeitamente, peço desculpa, mas ainda não consigo ter uma conversa completa em francês.
-Não faz mal.
-Posso saber o teu nome?
-Sim, sou a Michelle.
-Sou o Kevin, prazer em conhecer-te
-Prazer em conhecer-te Kevin.
-Igualmente, então o que te trás aqui a cima?
-A cidade, a magnifica vista que se tem daqui.
-Concordo, és daqui de Paris?
-Desculpa, tenho de ir.

-Espera.- Já era demasiado tarde. Subitamente Michelle teve que ir embora, algo a assustara.

Kevin ainda olhou em volta para ver se encontrava a fonte do susto que fizera Michelle ir-se embora, mas apenas viu os casais que já lá se encontravam. Porque se teria ido ela embora?

V.
Depois daquela noite, passaram alguns dias sem que a voltasse a ver.
Pensava nela o tempo todo, não sabia o que fazer, tinha de a encontrar mas onde e como?
Só sabia o primeiro nome dela, nada mais, não sabia se ela vivia ali ou se tinha lá ido de passagem, não tinha como chegar a ela.
As fotografias que Kevin tirara dela, apesar de estarem óptimas, decidiu guardá-las para si, não as iria mostrar a mais ninguém.
Era algo pessoal, deixava de ser um assunto profissional para se tornar estritamente pessoal.
Ele revia-as a toda a hora, aquela noite tinha mudado a sua vida, desejava agora outro ser humano, a sua atenção, queria dar e receber, queria partilhar, e o que a tornava tão desejada era o facto de ele nada saber acerca da sua vida, do seu passado, da sua história, estaria solteira, comprometida, gostara dele, não gostara.
Eram o tipo de perguntas típicas de uma situação destas, perguntas que ele gostaria de ver respondidas.
Acabaram por ver-se novamente um mês depois daquela noite.
Michelle passou em frente à esplanada onde ele tanto gostava de relaxar, de ler.
Kevin apercebeu-se logo dela, inconscientemente levantou o olhar mal ela passou, e ao olhar para ela, o seu coração acelerou como nunca antes. Largou automaticamente o livro, e dirigiu-se até ela. No curto espaço que os separava todas aquelas perguntas voltaram, e percorreram a sua mente a uma velocidade alucinante.

-Olá, lembras-te de mim?
-Olá, Kevin certo?
-Sim, lembras-te de mim, boa.
-Sim lembro, conhecemo-nos na Torre Eiffel á uns tempos. Foi um dia muito atribulado! Foi há um mês atrás certo?
-Sim, mais dia, menos dia. Fui mais uma atribulação nesse teu dia?
-Nem por isso. Foste o momento mais estável desse dia! Já passou tanto tempo, nem damos conta, que tens feito?
-Ainda bem que achaste isso. Bem, tenho tirado fotos. Queres tomar alguma coisa, estava ali na esplanada quando te vi.
-Sim, pode ser. -
Sentaram-se, pediram sumos e continuaram na conversa.
-Tiras fotos, és fotógrafo profissional ou é um hobbie?
-Começou como um hobbie quando para aqui vim, mas entretanto fui abordado ela directora de uma revista e ela comprou-me umas fotos que tinha gostado, tenho tentado tirar umas boas fotos para lhas vender.
-E tens conseguido?
-Sim, há um mês tirei umas fotos maravilhosas.
-E o que ela achou delas?
-Bem, na verdade ainda não as viu.
-Por que razão ainda não as viu, se achas que estão maravilhosas devias ter-lhas mostrado.
-Eu sei, mas não pedi autorização à modelo, e achei imoral vender as fotos sem que quem lá estivesse não soubesse.
-Muito bem, concordo contigo, e já falaste com a modelo?
-Sobre esse assunto não, mas ainda não acho que seja o momento.
-Tu decides quando é o momento.
-Talvez um dia.-
Kevin tinha receio que ela o achasse interesseiro, como tal decidiu não lhe contar que era ela quem figurava nas fotografias, pelo menos por agora.

O resto do dia foi passado na conversa, falaram de tudo um pouco, a conversa tinha sido agradável, ambos tinham apreciado a companhia.
Desta vez trocaram os números de telemóvel e ficara prometido mais uma tarde daquelas.
Kevin regressou a casa, e uma vez mais foi ver as fotos dela. Cada vez as achava melhor, teria de falar no assunto, mas não sabia como nem quando.
Tinha receio da reacção dela, iria reagir mal, bem.

VI.
Deixou passar 2 dias para a convidar para sair, e Michelle aceitou imediatamente.
Encontraram-se de novo naquela esplanada, Michelle nunca lá tinha estado, só com ele, e tinha gostado bastante do ambiente.
Depois de mais uma tarde de conversa Michelle decidiu levar Kevin a um sítio, que segundo ela era o 2º melhor local da cidade, depois da Torre Eiffel.
Levou-o a Notre Dame, dali tinham uma vista fenomenal sobre a cidade, que, acompanhado com a vista do cimo da Torre Eiffel, arrebatava quem lá fosse.
Ao longe via-se o cimo da torre, era uma vista incrível, Kevin aproveitou e tirou fotos do local, aquelas sim para vender a Dominique.

-Não queres pousar para algumas fotos?
-Ai não, não tenho jeito nenhum para essas coisas.
-Anda lá, de certeza que tens.
-Não, não tenho.
-Então age naturalmente, finge que não te estou a tirar fotos, eu apanho o teu lado fotogénico, pode ser?
-Não sei.
-Vá lá, eu não vou vender as tuas fotos, eu dou-tas, é só para completares a paisagem.
-Muito obrigado, sinto-me lisonjeada.
-Então vá, faz-me lá esse favor, vais ver que és uma boa modelo, mesmo sem fazeres nada.


A sessão fotográfica demorou 2 horas, e Michelle sem dar por isso chegou a pousar para algumas fotos.

Kevin convidou-a para jantar no seu apartamento, assim mostrar-lhe ia as fotos.
E assim foi, jantaram no apartamento dele, no local mágico, como lhe gostava de chamar, o telhado.
Michelle adorou a vista daquele local, ajudou a levar os pratos para baixo, e enquanto Kevin preparava o computador, foi de novo para o telhado, deitou-se na cama de rede a apreciar a vista.
Estava uma noite bastante agradável, não fazia vento lá em cima, estava-se mesmo muito bem.
Michelle admirou a vista, sem notar que também ela estava a ser observada, Kevin estava ali á uns minutos a observá-la, a admirar a sua beleza, a sua maneira de estar. Depois de uns minutos decidiu avançar, não queria que ela o visse ali parado a olhar para ela.
Pousou o computador em cima da mesa.

-Michelle está aqui, queres vir ver?
-Não podes trazer para aqui? Estou preguiçosa, e a culpa é tua!

-Minha? Como assim?- Perguntou como se tivesse chocado, mas na brincadeira.
-Sim tua! Meteste aqui uma cama de rede num local incrível, e queres que eu vá aí para ver as figuras tristes que fiz.
-Em primeiro lugar, não fizeste figuras tristes, em segundo lugar, eu também adoro ficar aí deitado em noites como estas.
-Ah, desculpa, queres vir tu para aqui? A casa é tua, desleixei-me.
-Ora essa! Claro que não, és uma convidada, tens direito às mordomias todas.
-Ai tenho?-
Perguntou intrigada - E que mordomias estão incluídas no ‘Plano Convidado’?
-Bem, tens direito a escolher onde queres ficar, podes comer e beber tudo o que quiseres, e se te portares bem, mas só mesmo se te portares bem, tens direito a uma massagem.
-Ai mas que bem, vou-me portar bem então.- Naquele momento um olhar revelador foi trocado, ambos coraram, mas mantiveram-se fixos um no outro.

Por fim desviaram o olhar, Kevin foi então para ao pé de Michelle, ela desviou-se um bocadinho, de maneira a que ele se sentasse, ou deitasse se preferisse.
Decidiu ficar sentado, mostrou-lhe as fotos, e Michelle viu-se obrigada a admitir que estavam muito boas, muito por causa do grande fotógrafo que ele era, segundo ela.
-Não, como vês, estás muito bem, nem precisas esforçar-te para ficar bem nas fotografias, não há muitas pessoas que se possam gabar disso.
-Obrigado, estão muito boas mesmo.
-De nada, eu disse-te.

Michelle olhou para o relógio, era já uma da manha, tinha de se ir embora, trabalhava daí a umas horas. Tinha chegado à hora de voltar a casa.
 

VII.
Kevin foi levá-la a casa, aquela hora não havia trânsito, chegaram lá num instante, ela também não morava muito longe, mas de certeza que demoraria horas na hora de ponta.
Kevin agiu como um autêntico cavalheiro, saiu do carro, abriu-lhe a porta, ajudou-a a vestir o casaco e levou-a à porta. Mas aí parou, chegara o momento mais difícil de qualquer saída.
A maneira como se despedir. Um beijo na face, nos lábios, um abraço somente, só um aceno ou somente um sorriso?
Foi Michelle quem iniciou a conversa de despedida.

-Adorei o dia de hoje. Muito obrigado. És uma boa companhia, sabias?
-Eu também adorei, não sabia mas se achas que sou! Tu também és muito boa companhia.
-Obrigado, acho que devemos repetir, que dizes?
-Claro que sim, quando podes sair?
-Depois de amanhã parece-me bem.
-A mim também.
-Então até depois de amanhã.
-Tudo bem. Boa noite.


Era difícil decidir o que fazer, mas não com Michelle, ela tomou a iniciativa abraçando-o.
Ao largarem o abraço ficaram próximos. Kevin aproveitou o sinal e inclinou-se na sua direcção, sem lhe tocar, cabia a ela o próximo passo, ou se afastava ou o beijava.

VIII.
Beijaram-se levemente, encostaram os lábios cuidadosamente, deixando-se levar pelo desejo que sentiam, completando o olhar fixo que tiveram horas atrás.
Ficaram arrebatados quando se separaram.

-Boa noite - Disse Michelle ainda atordoada.
-Hã? Sim. Boa noite.


Kevin deixou-a entrar em casa, e só depois foi para o carro.

O mesmo se passava com Michelle, assim que tinha fechado a porta de casa, ficou encostada a esta, a pensar no mesmo que Kevin.
Kevin afastou-se dali, passados alguns minutos de reflexão.
Chegou a casa e foi direito ao telhado, deitou-se onde Michelle estivera horas antes, ainda lhe conseguia tomar o cheiro, ficara na cama de rede, para sua felicidade.
Nessa noite dormiu ali, na cama de rede.
Michelle deitou-se na cama, com Kevin no pensamento, adormeceu e sonhou com ele.

Como combinaram encontrar-se daí a 2 dias, o dia de intervalo foi passado com nostalgia, Kevin acordou na cama de rede, e tinha a impressão que a rede ainda tinha o cheiro dela.
Michelle acordou preguiçosa, não lhe apetecia fazer nada, queria ficar ali, deitada a pensar em Kevin e no que ele estaria a fazer.
Às 11h da manhã tocou o telemóvel dela, era Kevin.

-Bom dia acordei-te?
-Bom dia! Não! Estava deitada mas não estava a dormir.
-Óptimo! Estava com medo de te acordar.
-Mas não o fizeste, podes ficar descansado- Michelle estava contente pelo telefonema, queria muito falar com ele, mas desejava ainda mais a sua presença.
-Queria saber se queres ou podes adiantar o nosso encontro para hoje.


-Puder, posso mas não vejo motivo para tal! - Disse em tom de gozo
-Bem, porque quero estar contigo, adorei estar contigo e quero repetir, e quanto mais cedo melhor.
-Ai sim?
-Sim, não tenhas dúvidas, e já agora, a cama de rede perdeu o cheiro ao teu perfume, não sei se consigo aguentar sem ele.
- Contra tudo o que planeava, com Michelle estava disposto a abrir a mente e o que sentia, não tinha medo de dizer o que pensava, mas depois de o dizer, tinha receio da reacção dela.
-Temos que resolver isso então, não quero que andes por aí a dar em doido por não teres o meu cheiro na rede.
-Temos de tratar disso, quando te posso ir buscar?
- Foi directo ao assunto.
-Eu não disse que queria adiantar, eu disse que podia.
-Vá lá, não sejas assim, está a fazer-te difícil porquê? Tu adoraste a vista daqui, confessa lá que queres cá voltar.
-Confesso, isso aí em cima é magnífico.
-Eu sei, por isso criei este pequeno cantinho.
-E fizeste tu muito bem. Estou despachada daqui a 30 minutos. Serve para ti?
-Se serve? Estou aí daqui a 10 minutos.
-Não tenhas tanta certeza, olha o trânsito!
- Kevin tinha-se esquecido desse pormenor
-Pois é, esqueci-me! Vou sair agora de casa, até já.
-Até já, beijo
-Um beijo.


Kevin tomou um banho a correr, ainda estava com a roupa da noite anterior. Pegou numa maçã e foi a correr para o carro, se ia apanhar trânsito, o melhor era ir já para lá.
Chegou a casa dela 45 minutos depois de ter saído do seu apartamento, estava um trânsito infernal, mas ele não parecia afectado, noutro dia talvez tivesse ficado, mas não hoje.
Foi buscá-la, almoçaram num restaurante ali perto e depois foram passear pelos campos Elísios.
 

IX.
Ao findar da tarde voltaram à varanda.
Desta vez deitaram-se os 2 na cama de rede.
Pouco depois de se acomodarem, Michelle recebeu um telefonema, eram os seus pais.
Para grande espanto de Kevin, Michelle falava em português com os pais, mas nada disse até que ela desligasse.
-Desculpa, não pude deixar de ouvir a tua conversa. Não sabia que falavas português.
-Ah, tu sabes falar português?
-Sim, eu sou português, e tu, aprendeste a falar?
-És português? Uau que coincidência
- Michelle estava espantada. - Eu nasci na Alemanha, mas os meus pais são portugueses, e eles insistiram em que se falasse português em casa.
-Boa, ainda bem, que fixe sermos portugueses, afinal temos muito em comum.
Parece que sim.-
Trocaram de novo olhares apaixonados, namoraram até de madrugada.

Michelle passou lá aquela noite, ficaram aninhados ali, no telhado, Kevin tinha ido buscar uma manta, ele não tinha frio mas ela podia vir a ter.
Dormiram descansados, aconchegados. Só acordaram quando o sol lhes chegou à cara, e mesmo depois disso, continuaram ali, na companhia um do outro.

Kevin decidiu então puxar à conversa um assunto que sempre lhe tinha causado curiosidade.

-Michelle posso fazer-te uma pergunta?
- Sim claro! Diz…
- No dia em que te conheci, na Torre, tu desapareceste de repente. Ainda hoje me pergunto o que te aconteceu.


Michelle ficou imediatamente séria e tensa. Kevin apercebeu-se logo que tinha cometido um erro ao falar daquilo.

- Desculpa Michelle, se não quiseres contar não me importo.
- Não deixa. Um dia teria que falar. Além disso não faz sentido esconder-te isto.


Olharam um para o outro, Kevin tentava esconder a ansiedade que lhe crescia no peito por saber o que tinha acontecido à mulher que amava

- Ora bem, naquela altura eu tinha acabado uma relação há pouco tempo. Descobri que ele me tinha traído. Naquele dia na Torre quis relaxar e aproveitar a bela vista, mas quando reparei vi o meu ex-namorado com a sua namorada, a rapariga com quem me traiu.
- Lamento imenso. Ele foi um parvo.

Michelle riu-se.

- Sim, eu também disse isso a mim própria!
- Já não dizes?

Olhavam-se nos olhos e ela corou.

- Não, agora tenho a melhor pessoa comigo. Já nem quero saber do que ele faz.

Kevin sorriu-lhe e depois puxou-a para si. Deixaram-se ficar aconchegados até que a fome apertou e desceram para comer.
  

X.
Os dias foram passando e o amor que sentiam foi crescendo.
Dia 30 de Julho, 6 meses depois de terem começado a namorar, passavam as manhãs na cama de rede e as tardes a passear por Paris.
Num desses dias foram de novo à Torre Eiffel durante a tarde, e ao voltarem a casa de Kevin este disse-lhe que à noite tinha uma saída surpresa.
Kevin pediu que Michelle vestisse algo formal. Tinha-lhe comprado um vestido lindo azul clarinho, comprido e com uma faixa dourada pouco abaixo do peito.
Para ele tinha um fato cinza claro, com uma camisa azul, da mesma cor do vestido de Michelle.
Ela não compreendia o porquê de tantos preparativos mas fez o que ele pediu, ele sempre lhe tinha dado motivos para confiar nele.
Assim que chegaram ao carro, Kevin pôs uma venda em Michelle, agora sim, ela estava ansiosa por saber o que se passava.
Kevin levou-a a um restaurante situado no cimo de um prédio, dali tinham uma vista fabulosa sobre o rio e ao fundo a Torre Eiffel, já iluminada. Esta vista fazia as delícias de quem lá ia jantar.
Quando Kevin tirou a venda, Michelle amou o local, nunca lá tinha ido e adorara a surpresa.
Agora compreendia o porquê da roupa formal, era um restaurante chique, todos estavam bem vestidos, mas segundo Kevin, ela era a mais bem vestida e mais bonita dali.
Jantaram num pequena mesa quadrada com flores e velas perto dos limites do prédio, era um restaurante aberto, não tinham paredes, mas sim vidro a marcar os limites, para que não se tapasse a excelente vista.
Comeram Fondue bourguignonne (fondue feito com óleo, em que se mergulham cubos de carne) e beberam vinho da região.
Para sobremesa pediram Crème brûlée, o equivalente ao leite-creme em Portugal.
Depois foram para a zona de conforto, era uma zona longe das mesas, onde tinham pequenas mesas para pousar um copo, com bancos altos e onde também existiam espreguiçadeiras.
Passava da meia-noite quando Kevin pediu champanhe.
Quando se preparavam para ir embora Kevin puxou Michelle para si.

-Michelle sabes o quão importante és para mim, amo-te, és a mulher da minha vida, nunca conheci ninguém como tu, adoro a tua maneira de ser, adoro o teu sorriso, passamos os dias juntos, graças a ti sou feliz, quero passar o resto da minha vida contigo.- Kevin fez um compasso de espera, ajoelhou-se, abriu a caixa que guardava um lindo anel em ouro branco de 3 quilates e fez a pergunta - Queres casar comigo?

Michelle achou aquele pedido perfeito, o ambiente era perfeito, o timming era perfeito.

-Sim, quero casar contigo.

Abraçaram-se, e depois de Kevin pôr o anel no dedo de Michelle beijaram-se apaixonadamente, enquanto as pessoas que lá estavam, e que se tinham apercebido do sucedido aplaudiam, felizes pelos noivos.
Foram directos para a casa de Kevin, Michelle tinha-se mudado para lá uns meses antes, passava lá mais tempo do que na sua casa, não tinha lógica continuar a pagar uma renda se não a usava.
Nessa noite fizeram amor, era a primeira vez que o faziam, tinham esperado pelo melhor momento, e este era-o sem dúvida.


Pertenciam agora um ao outro, tinham o resto das suas vidas pela frente, uma vida em comum, um só caminho a percorrer, um só destino, um meio em comum para um fim em conjunto.

            
 E assim acontece...um amor em Paris.

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