02 agosto 2010

Crystal- Filha da guerra (parte 10)

Decorria o ano de 1945.

Crystal voltára a casa 2 anos antes, depois da sua fuga, pelas piores razões mas tinha regressado.
Ela tinha agora 20 anos, geria a quinta da família, que se reduzia agora á habitação e a um celeiro vazio, só cheio com feno, na sua altura, o resto do ano nada havia ali.
Dedicavam-se agora á venda de feno ás quintas vizinhas.
Para grande trizteza de Crystal, tinha-se visto obrigada a vender a quinta aos poucos, não conseguira cumprir o que prometera ao seu pai, e o pior de tudo era que o seu pedaço de terra preferido, onde ficava o seu adorado lago, era a próxima porção de terra a vender.

A 2 setembro de 1945, o Japão assinava formalmente diante dos representantes das nações aliadas no oriente a rendição a bordo do USS Missouri, na baía de Tóquio, pondo então fim á Segunda Guerra Mundial.
Não tinham noticia dos homens da familia havia 5 anos, nem deles nem de Paul Walker, nenhum deles havia aparecido.
Numa manhã, Crystal levantou-se com um pressentimento que algo iria acontecer naquele dia, não sabia o que era, mas sabia que algo aconteceria.
Tomou o pequeno almoço e foi dar um passeio, recordar os bons velhos tempos.
Os dias em que a mãe ainda ali estava, os dias em que os pais e o tio percorriam aquela terra, então fértil e produtiva.
O dia em que conhecera o Sargento Paul Walker, o homem que lhe mudou a vida, para sempre.
Mas agora, 5 anos depois de o ter conhecido, estava ali sem ninguém, sozinha, envolta nos seus pensamentos.
Dirigiu-se uma última vez ao lago, este seria vendido no dia seguinte, para sua grande tristeza.
Estava uma manhã fria, o nevoeiro estava serrado, só se viam uns metros á frente, nada mais.
Finalmente chegou ao lago, estava demasiado frio para nadar, decidiu então ficar sentada numa rocha ali perto. Chorou durante a sua estadia naquele local.
A sua vida tinha-se desfeito de um momento para o outro com a morte da mãe, e até então nada melhorara, perdera tudo o que amava, a quinta que conhecia, aqueles montes, aquele terreno outrora cheio de gente trabalhadora, cheio de plantas, cheio de vida.
Tudo isso desaparecera da sua vida, continuava verdejante e produtivo, mas já não lhe pertencia, pertencia agora a propriedades vizinhas, a gente que ela não conhecia, alguém que lhe tinha tirado o que ela gostava, a sua vida.

Esteve naquele local, imobilizada pelo medo, pelas lembranças, durante mais de 3 horas.
Decidiu que estava na altura de sair dali, ja chegava de sofrimento.
Mas ao fazê-lo algo maravilhoso aconteceu.
No meio da nebulina apareceu um vulto, Crystal estava ainda afectada pelo momento, e foi incapaz de se mexer.
O vulto parecia abatido, procurava por algo que ainda nao tinha encontrado, mas assim que a viu tudo mudou, parou por um momento, como que a se certeficar se era ela que ali estava.
Deu mais uns passos nas sua direcção, ficando parado em frente a Crystal.
Já não estava em volto em nevoeiro, era agora visivel quem ali estava.

Era Jack, tinha sobrevivido á 2ª guerra mundial, estava ali, tal como prometido.
“Olá.” –Disse Jack, cansado mas com um sorriso enorme nos lábios.
“Olá, pai.”- Crystal levantou-se e correu para ele.
Ficaram abraçados o que parecia uma eternidade.
”Senta, vamos falar.”-Jack estava obviamente cansado
“Fico tão feliz por te ver, começava a perder as esperanças.”
“Eu sei querida, mas voltei, prometi-to e cumpri.”
“Ainda bem, nem sabes a satizfação que tenho de te ter aqui.”
“Eu também adoro estar de volta. Como estão as coisas por aqui?”
“Bem, a quinta está mal, infelizmente, não conseguimos manter a quinta como estava, tivemos que vender quase tudo, só falta a casa, o celeiro, e este sitio onde estamos, e até isto vai ser vendido, vem cá amanhã alguém para comprar.”
“Bem, não faz mal, havemos de resolver isto, foste sobrevivendo é o que interessa.”
“E o tio? Que se passou?”
“Ele infelizmente não resistiu.”
"Lamento"- Fizeram uns minutos de silêncio na em sua memória.
“Mas sabes uma coisa curiosa?”
“O quê?”
“O ano passado, estavamos numa trincheira sobre fogo inimigo, um homem desabafou comigo que tinha conhecido uma menina fabulosa para estes lados. Uma menina que apesar de muito jovem de idade era já uma adulta no pensamento.”
“Aí sim?”- Crystal tinha a sensação que o pai falava de Paul.
“Sim, achei estranho, não o conhecia, mas ele, por alguma razão decidiu confessar tudo aquilo comigo.”
“E o nome, soubeste o nome dele ao menos?”
“Sim.”
“Quem era?”
“Não me lembro, agora esqueci-me, deve ser da emoção de estar aqui ao teu lado.”
“Talvez, mas agora fiquei curiosa. Gostava de saber quem era.”
“Assim que me lembrar digo-te ok?”
“Ok”
“Agora vo tomar um banho, to mesmo a precisar.”
“Ok, até já pai, já vou para casa.”
“Até já querida.”
Crystal viu o pai afastar-se, embrenhar na nebulina.

Passados alguns minutos um vulto voltou a ver-se ao longe. Desta vez parecia mais alto que o pai. Não deveria ser este de novo.

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