29 abril 2013

Como foste capaz?


Continuação da história da Emilie

   "Então? Que se passou?" - Perguntei num tom alarmado - "Estás bem?"
"Não. Quer dizer, sim. Nem por isso..." - A atrapalhação reinava na tua mente. Sabias o que dizer, não sabias era como e a minha inquietação só contribuía para te deixar mais confusa. Ouvi-te enlouquecer e atiraste "Traí-te!!" Apercebeste-te do que havias feito. O silêncio reinou naquela linha. Ouvia-se a interferência própria de uma chamada telefónica. Nem a respiração era audível. Caíra tudo. Lembro-me do que tinha vestido no dia em que te conheci. Lembro-me o que tu tinhas vestida quando te vi pela primeira vez. Quando vi alguém para respeitar, para acariciar, para amar. Pensei que serias diferente. "Desculpa" - Sussurraste, de modo a interromper aquele silêncio. Ouvi-te mas nada tinha para te dizer. O três bip's que se seguiram no teu ouvido eram a única resposta que tinha para ti. Voltei a pôr o telefone no bolso, suavemente. Não choro, não falo, não me recordo do que aconteceu nos minutos seguintes. Estou dormente. Paralisado. Não entendo como todo o amor, o respeito, o carinho, os sorrisos, tudo. Não entendo como tudo vale nada.
 A única palavra que me percorre a mente é a última que tinha saído dos teus lábios. Aquela antes da tentativa desesperada de perdão. Aquela que mudou tudo. Achas que consigo viver com isso? Sabendo que outro te tinha tocado como eu. Que te tinha chamado os nomes que te chamava. Que te amou, melhor que eu, pelos vistos. Estavas assim tão sem amor? Deixei de te dar o que dava? Desleixei-me assim tanto para que te sentisses carente? Eu deixei de te satisfazer as necessidades? Já não te dava prazer? Porque preferiste seguir esse caminho em vez de falares comigo?  Quantas...quantas foram? Quantas vezes me esfaqueas-te as costas? Quantos litros de sangue deixaste escorrer até tentares cicatrizar o meu coração? Durante quanto tempo fui cego? Não percebo como não vi diferenças em ti. Como nem no teu olhar tinhas culpa. Por isso não me apercebi. Não te sentias culpada? Porque me disseste? O que te fez querer contar a verdade? São tantas as perguntas que me invadem a mente neste momento.  Achas que "desculpa" apaga o que me fizeste? Como posso confiar em ti agora? Como posso pensar que as palavras que saem da tua boca são verdadeiras? Queres que te olhe nos olhos com aquela doçura habitual? Que te diga as palavras que pelo menos uma vez ouviste de outra boca? Estás louca se é isso que esperas. As palavras que durante anos me disseste eram verdadeiras sequer? Ou eram mera ilusão para me manteres a teu lado? Porque me mantiveste a teu lado afinal? Como conseguiste olhar para mim? Falar comigo? Tocar-me com essas mãos sujas. Já te toquei depois de te terem tocado? Abano a cabeça para tentar tirar essa imagem do meu pensamento. Enjoado, é como me sinto. Rebaixo o meu corpo e ponho a cabeça entre os joelhos. Uma náusea abala o meu corpo. Tremo por todos os lados quando me levanto e saio daquele edifício  Não ouso olhar á minha volta. Dirijo-me ao carro e saio dos locais que me fazem lembrar a tua última chamada. Dirijo-me para o local que outrora chamei lar disposto a olhar para ti uma última vez.
Acabou. A admiração e o respeito que tinha por ti morreu.

Como foste capaz? 

Sem comentários:

Enviar um comentário

+ histórias