04 dezembro 2013

   Queres que te diga porque fiquei assim? Tudo bem, depois não digas que não te avisei.
 Brincavam comigo, usaram-me a belo prazer como um boneco de trapos pontapearam-me, mudaram-me de sítio, servi de decoração, combinava com os cortinados deitado no chão, deixei de servir fui expulso, fiquei na rua sem sítio para dormir, comi restos, lixo, ar, sujo, roupa rota, banho por tomar. Chamaram-me, voltei, não sorri, aceitei, pensei que tudo tinha mudado, que iria ser bem tratado. Otario, como pude pensar que me iria curar depois de tanto sangrar? Espancaram-me, encostaram-me à parede,esfaquearam-me. Arrancaram-me partes do corpo. Não tenho poros intactos, tais eram os impactos. Tenho o coração despedaçado, sou feito de cortes, sou remendado.



Parte I: http://euescrevotucomentas.blogspot.pt/2013/10/sozinho.html

3 comentários:

  1. Fiquei parva com este texto. Um parva no bom sentido, claro. Desconhecia esta tua faceta literária e confesso que gosto. Sente-se a «raiva», sente-se a vontade de cuspir as palavras que magoam. Continua, continua...

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