Naquela cama.

A música entoava no quarto. Deitada á minha frente, na cama cantavas para mim, num tom leve e suave. Fechei os olhos, como sempre faço quando cantas. Cheguei o meu ouvido para perto dos teus lábios e absorvia as palavras que dizias. As minhas mãos percorriam o teu rosto. Quando a música parou, as tuas palavras cessaram. Os meus olhos abriram-se e encontraram-se com os teus, lindos e profundos como sempre. A música seguinte começou e eu uma vez mais fechei os olhos e preparei-me para te ouvir cantar, mas não foi o que ouvi. Perguntaste-me o que havia de errado. Tinhas visto algo no meu olhar.
Permaneci com os olhos fechados, não te soube responder, não consegui e naquele momento as lágrimas irromperam nos meus olhos. Percorreram-me a face. Não foi por algo que tenhas feito ou pela pergunta que lançaste, foi pela segurança que me deste no abraço que se seguiu, pelo peito livre onde pousar a cabeça, pelas mãos inquietas que e percorriam a cara, pelo silencio que em vazio dizia "Pronto. Está tudo bem." Permaneci imovél algum tempo. Na minha cabeça as palavras "não é nada que tenhas feito mu bem" não paravam, precisava descansar-te, mas pareciam não chegar á boca. Por fim elevei ligeiramente a cabeça do teu peito e fixei o meu olhar no teu. Expliquei-te o motivo e voltaste a abraçar-me. Voltei a pousar a cabeça no teu peito. Passaste os teus dedos pelos meus olhos, querias ver se estavam secos. Não estavam. Ainda. Não era algo que nos afectasse, mas a mim afectou.
Desculpa ter quebrado mas o calor do teu abraço proporcionou que me libertasse, que o que me atormentava se soltasse.
Obrigado pelo calor e por tudo o que dele é emanado, que me transmites. Sabes que te amo e são gestos como estes que me fazem querer-te  sempre a meu lado. Como estávamos. Bem juntinhos. Naquela cama.