10 junho 2012

Cartas de um militar #1

 Carta #5(todas as outras foram perdidas pelo caminho)

   Aqui, a quilómetros de distância imagino o que estarás a fazer, em que estás a pensar, em que sitio da casa me esperas. Se é que ainda me esperas. Olho o céu e obrigo-me a pensar que onde quer que estejas, independentemente da tua tarefa, parte do teu pensamento está fixo em mim. Que apesar de já fazer algum tempo a minha voz ainda ecoa na tua cabeça. Que, mesmo estando diferente, na tua mente a minha imagem não se alterou. Que no meio de tanta ingenuidade tua me mantenho o eterno brincalhão com rosto sorridente. Mas deixa-me confessar-te: o sorriso á muito me abandonou, o brilho á muito se apagou. Aquele rosto outrora liso encontra-se agora marcado. A minha forma de ver o mundo mudou. tudo em mim mudou. Desde que saí dos teus braços tudo tem vindo a alterar-se. O mundo que quis conhecer contigo não é assim tão belo. As pessoas não são assim tão acolhedoras. Aqueles países exóticos como se vêem na televisão não existem mais. A guerra tomou conta deles. As paisagens alteraram-se, erguem-se agora as ruínas onde outrora grandes cidades existiam. Tudo mudou por aqui. Espero que por aí tudo se mantenha igual, que aquele campo verdejantes se mantenha como eu o conheço. Que aquele banco de jardim onde tanto gostas de te sentar ainda se mantenha em pé.Que tu, meu doce, te mantenhas a jovem sonhadora que me habituaste. A eterna menina em corpo de mulher. Mas espero, acima de tudo que o que sentes se mantenha e sobreviva á guerra que me tenta matar.

um beijo de saudade meu bem

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