13 julho 2010

Crystal- Filha da guerra (parte 5)

A dia 2 de Abril de 1938, Sally faleceu aos 47 anos, vitima de uma doença até então desconhecida.
Deixou para trás uma vida sofrida, uma vida de muito trabalho, era mulher e mãe, e uma excelente dona de casa.
O funeral foi realizado na sua quinta, Crystal escolheu o sitio onde iram enterrar a mãe, um local próximo do seu tão adorado lago, assim, sempre que visitasse o lago veria a mãe e a mãe iria vê-la também.
A reacção de Crystal ao acontecimento não foi a esperada, chorou, obviamente, mas não tanto quanto se esperava, pelos vistos Crystal já estava á espera que isto acontecesse, a mãe estava mal á uns meses e não mostrava sinais de melhorar.
Juntaram a família mais próxima e alguns amigos de quintas ali perto, foi uma cerimónia simples, tal como Sally era.
Crystal assistiu á cerimónia serenamente, trazia um vestido negro, simples mas muito bonito, ficara junto do pai, não chorou. Quando os últimos centímetros de terra foram lançados, Crystal afastou-se, subiu a um monte ali perto e sentou-se, num ponto alto onde via quase toda a propriedade, mas mais importante que isso, via a mãe sem que quem lá estava junto a visse a ela.
Sentia-se em paz naquele momento, sentia uma espécie de alivio, a mãe tinha deixado de sofrer, e onde quer que estivesse estaria melhor do que deitada na cama sem se mexer.
Os meses seguintes foram de habituação, Crystal tomara o lugar da mãe após a sua partida, cabia a ela fazer tudo o que a mãe fazia.
O ambiente naquela casa era estranho, a ligação que tinha com o pai tinha-se degradado com o tempo, só falavam á hora de jantar e a conversa era banal, sem sentido.
Crystal era agora uma menina ainda mais solitária que antes, não ia á escola, perdera agora todo o interesse na educação, a única que a levava a ir lá era a mãe, e agora que não estava presente, já não fazia sentido insistir. As horas passadas na cozinha eram de angústia, tinha a sensação que estava a substituir a mãe, e até achava que o pai a via dessa maneira também.
Os dias eram agora monótonos, Crystal deixara de viver para adquirir um estatuto de maquina, fazia tudo o que devia e ás vezes mais, sem nunca se queixar, havia dias em que não falava com ninguém, sentia-se perdida.
Todos os dias levava um ramo de flores á campa da mãe, mantinha-a livre de ervas, fizera uma clareira ali, plantara algumas rosas ali perto, uma espécie de santuário.
Rezava todos os dias para que onde quer a que a mãe estivesse os ajudasse a sobreviver mais um dia.
O tempo com Stalion tornara-se curto, quase inexistente, só o via quando lhe levava feno e água, ele não saia do estábulo, não davam os passeios matinais como antigamente, e ele dava conta disso, sempre que ela entrava na sua box, ele aproximava-se e dava um toque com o focinho nas suas costas, como que a dar-lhe apoio, a dizer que a compreendia.
Crystal pedia-lhe desculpas, sempre que saia do estábulo, sentia-se culpada por ele não sair dali, mas a verdade é que não tinha tempo para o vir por ao estábulo á noite e não o queria deixar á solta.
Só Stalion se mantinha na quinta, todos os cavalos que Crystal ficara a tomar conta tinham sido vendidos, não havia razão para os manter ali fechados, e por muito que lhe custasse, provavelmente Stalion teria o mesmo destino, mas não por agora.
Queria mantê-lo o mais possível junto de si, apesar de já não lhe dar tanta atenção, continuava a adora-lo, era o seu cavalo.
Finalmente a 20 de Agosto de 1939 Crystal conseguiu tirá-lo do estábulo, chegara ao seu limite e não conseguia continuar a vida monótona que tinha, deixou tudo o que tava a fazer e foi dar um longo passeio pelas redondezas, era a primeira vez que saia da quinta sem ser para ir á escola ou a alguma feira com os pais.
Sentia-se confiante para dar uma volta e explorar os montes que circundavam a quinta.
O pai, quando chegara a casa, apercebera-se que ela não tinha feito o que devia, mas não podia culpar a pobre rapariga, afinal ela só tinha 14 anos e á muitos que trabalhava e era tratada como uma adulta, também tinha o direito de sair e fugir um pouco ás responsabilidades.
No final do dia Crystal regressou a casa, o pai já la estava, sentado á mesa e a primeira coisa que se lembrou foi pedir desculpas.
"Desculpa pai, não queria deixar tudo por fazer."
"Não peças desculpas, devia sair, divertir-te, não devias estar sempre aqui fechada a trabalhar."
"Mas... agora que..."-Ainda lhe custava falar no assunto
"Não precisas de o dizer se não quiseres."- o pai sabia a que ela se referia.
"Não, eu consigo." respirou fundo e tentou de novo "Agora que a mãe não está entre nós, tenho que trabalhar como deve ser, sozinho não consegues resolver tudo."
"Sim, tens razão, mas precisas sair, arranja um tempo para ti, precisas de apanhar ar"
"Ok, vo tentar arranjar um tempinho para apanhar ar."
"Fazes bem, agora vai descansar, até amanha."

A 1 de Setembro de 1939, a noticia irrompeu o pais como uma bomba, a Polónia acabara de ser invadida pela Alemanha Nazi, estava eminente uma guerra mundial, Jack, como fuzileiro retirado temeu que fosse chamado se os EUA entrassem em guerra, o que seria de Crystal, o que seria da quinta que tanto trabalho dera a ser criada.
A França, o Império Britânico e o Commonwealth (associação de territórios autónomos, mas dependentes do Reino Unido, criada em 1931 e formada actualmente por 54 nações, a maioria das quais independentes, mas incluindo algumas que ainda mantêm laços políticos com a antiga potência colonial britânica) rápido declararam guerra aberta á Alemanha. E os países que já nessa altura estavam em guerra, Etiópia e Itália na Segunda Guerra Italo-Etíope e a China e Japão na Segunda Guerra Sino-Japonesa só serviram para aumentar o caos no mundo. Todos os países que ao principio se mantiveram afastados, acabaram por se envolver aquando da invasão da União Soviética pelos Alemães e os ataques Japoneses contra as forças dos Estados Unidos no Pacífico em Pearl Harbor e em colónias ultra marítimas britânicas, que resultou em declarações de guerra contra o Japão pelos EUA, Países Baixos e o Commonwealth Britânico.
Tudo o que Jack temera aconteceu, recebeu uma visita de uma coluna militar que obrigava todos os homens que tinham entre 18 e os 50 anos a alistar-se no exército, e ele como ex fuzileiro foi dos primeiros a ir, tinha a experiência e o conhecimento militar que o exército precisava.
O mundo de Crystal desabou, primeiro perdera a mãe, agora arriscava-se a perder o pai, o tio e os primos numa guerra que não era a sua, mas sim de um país.
Jack foi levado nesse mesmo dia, não teve direito a orientar as coisas para a filha, foi só com o que tinha vestido, e ao entrar no tanque gritou para Crystal
"Amo-te muito filha, nunca te esqueças disso, amo-te muito, trata de ti, eu prometo que volto, prometo!" -as lágrimas não foram poupadas por ambas as partes, Crystal sabia que o pai tencionava cumprir o que dissera mas também sabia que era pouco provável ele conseguir regressar a casa são e salvo, mas não desistiria, rezaria por ele todos os dias.
Os aviões passavam nos céus todos os dias, carregavam um ambiente pesado e destrutivo, e sempre que Crystal os via arrepiava-se, mas não deixava de vir á rua, na esperança que isso servisse para que o pai não se magoasse, a dor de perder a mãe fora imensa, e perder agora o pai iria ser insuportável.

4 comentários:

  1. a Crystal não tem mesmo sorte nenhuma :(
    tenho tanta pena por ela ...

    ... neeeeeeeeeeeeext!

    :)

    estou ansiosa!

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  2. Pois nao, pobre rapariga.
    Vo escrever depois do jantar ;)

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  3. Opá coitada fogo =(
    Tou a ficar deprimida trufas =)
    Venha mais um capitulo !!!

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  4. Esta história é diferente da 1ª, não tem tanta perfeição, é mais realidade.
    A parte 6 já ta feita, é só esperar para que eu a ponha aqui, vou começar a escrever a parte 7 ;)

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